Ontem, noticiei no programa que faço aqui na
rádio Absoluta um acidente de carro que deixou dois mortos e três feridos. O
automóvel ficou totalmente destruído. Um dos mortos era sobrinho de um vereador
da região. Calma! Ele não estava “doidão”
e em a mil por hora. A história foi outra.
O
rapaz que estava saindo da casa de sua noiva, foi abordado por três senhoras com
um bebê de 11 meses passando mal. Elas pediram ajuda, precisavam de carona para
levar a criança ao hospital. O rapaz ajudou. Levou a criança ao hospital mais
próximo. Assim que deixou a criança e as senhoras no hospital, foi abordado
pelo segurança da instituição e informado de que deveria tirá-los dali, por que
não havia médicos de plantão. Bom, o rapaz deixou a noiva em casa e seguiu a
peregrinação para outro hospital. No caminho um carro na contramão colidiu com
o dele. As senhoras no banco de trás se abraçaram em torno da criança que saiu
sem hematomas. Elas tiveram algumas partes do corpo quebradas, mas estão bem. O
rapaz morreu.
Hoje pela manhã foi uma comissão ao hospital,
até para tentar entender por que não havia médicos de plantão no dia do
ocorrido, se seis médicos constavam na escala. Bom senhores, foi apurado que dois
médicos estavam presentes, mas informaram que não iram atender. Apura-se também
um acordo entre os médicos do hospital, uma espécie de escala rotativa que dos
seis médicos escalados nos plantões semanais apenas dois vão trabalhar. Mas todos
recebem normalmente. Não é novidade que acordos imundos são de certa forma
blindados no setor da saúde, pelo forte corporativismo que existe na classe.
Ora, sabemos dos problemas de salários e falta de estrutura no setor, mas os
médicos e estudantes de medicina também sabem. Um erro não justifica o outro.
Isso é formação de quadrilha.
Muitos
médicos reclamam dos valores repassado pelo SUS por determinados procedimentos
e alguns cobram “por fora”. Ou seja, recebem do SUS e do paciente. O paciente
que possui dinheiro para pagar o que lhe é de direito gratuitamente tem “milagrosamente”
seus procedimentos marcados com rapidez. Já os que não possuem a verba do “suborno
médico” não encontram vagas e penam nas filas de espera que por vezes acabam em
morte.
Não citei
os nomes dos médicos, nem das vítimas, nem do hospital por esses nomes são os
nossos, de nossos amigos, familiares e conhecidos. O objetivo do texto não é
falar do “sobrinho do vereador”, mas da casa de leilões que virou a saúde nesse
país. Peço perdão aos bons médicos, que apesar de saberem que são mal
remunerados não se corrompem, desdobram-se em plantões, abrem clinicas ou só
trabalham na saúde privada.
A
repercussão, apuração e uma provável punição se darão, por que morreu “parente
de político”. Mas, e os outros milhares de anônimos que morrem todos os dias
pelo mesmo motivo? Se colocarmos esses na conta os caixões de alguns médicos,
teram de ter muitas gavetas.
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