quarta-feira, 15 de maio de 2013


Médicos ou Leiloeiros

 Ontem, noticiei no programa que faço aqui na rádio Absoluta um acidente de carro que deixou dois mortos e três feridos. O automóvel ficou totalmente destruído. Um dos mortos era sobrinho de um vereador da região.  Calma! Ele não estava “doidão” e em a mil por hora. A história foi outra.
O rapaz que estava saindo da casa de sua noiva, foi abordado por três senhoras com um bebê de 11 meses passando mal. Elas pediram ajuda, precisavam de carona para levar a criança ao hospital. O rapaz ajudou. Levou a criança ao hospital mais próximo. Assim que deixou a criança e as senhoras no hospital, foi abordado pelo segurança da instituição e informado de que deveria tirá-los dali, por que não havia médicos de plantão. Bom, o rapaz deixou a noiva em casa e seguiu a peregrinação para outro hospital. No caminho um carro na contramão colidiu com o dele. As senhoras no banco de trás se abraçaram em torno da criança que saiu sem hematomas. Elas tiveram algumas partes do corpo quebradas, mas estão bem. O rapaz morreu.   
 Hoje pela manhã foi uma comissão ao hospital, até para tentar entender por que não havia médicos de plantão no dia do ocorrido, se seis médicos constavam na escala. Bom senhores, foi apurado que dois médicos estavam presentes, mas informaram que não iram atender. Apura-se também um acordo entre os médicos do hospital, uma espécie de escala rotativa que dos seis médicos escalados nos plantões semanais apenas dois vão trabalhar. Mas todos recebem normalmente. Não é novidade que acordos imundos são de certa forma blindados no setor da saúde, pelo forte corporativismo que existe na classe. Ora, sabemos dos problemas de salários e falta de estrutura no setor, mas os médicos e estudantes de medicina também sabem. Um erro não justifica o outro. Isso é formação de quadrilha.
Muitos médicos reclamam dos valores repassado pelo SUS por determinados procedimentos e alguns cobram “por fora”. Ou seja, recebem do SUS e do paciente. O paciente que possui dinheiro para pagar o que lhe é de direito gratuitamente tem “milagrosamente” seus procedimentos marcados com rapidez. Já os que não possuem a verba do “suborno médico” não encontram vagas e penam nas filas de espera que por vezes acabam em morte.  
Não citei os nomes dos médicos, nem das vítimas, nem do hospital por esses nomes são os nossos, de nossos amigos, familiares e conhecidos. O objetivo do texto não é falar do “sobrinho do vereador”, mas da casa de leilões que virou a saúde nesse país. Peço perdão aos bons médicos, que apesar de saberem que são mal remunerados não se corrompem, desdobram-se em plantões, abrem clinicas ou só trabalham na saúde privada.
A repercussão, apuração e uma provável punição se darão, por que morreu “parente de político”. Mas, e os outros milhares de anônimos que morrem todos os dias pelo mesmo motivo? Se colocarmos esses na conta os caixões de alguns médicos, teram de ter muitas gavetas.     

sexta-feira, 10 de maio de 2013


         
                                                    
                                                  Depois do Por do Sol                                                            

       Hoje, lembrei-me de uma matéria que li no início desse ano, sobre os 5 países considerados mais perigosos para uma mulher se viver. Algumas vezes, essas violências possuem respaldo social, cultural, religioso e até judicial em alguns países. Existem até os “assassinos de honra”.

     Na Arábia Saudita 6 em cada 10 mulheres sofrem violência física e moral diariamente. No Paquistão é comum o ataque com ácido no rosto e corpo das mulheres. Quando um homem, chega a ser denunciado à justiça ele pode alegar crime de honra. No Congo mais de 400 mil mulheres são violentadas por ano, incluindo meninas ainda crianças. Na índia além da violência física, do casamento infantil, existe um número alarmante de tráfico de mulheres. Na Somália, estupros, mortalidade durante a gravidez e mutilação feminina. E no Brasil? 

                                    
    

                                                               Indescritível

       O motorista escolar Ariel Castro de 25 anos sequestrou, torturou e abusou sexualmente durante 10 anos de três mulheres em Ohio, Estados Unidos. Ele pode pegar pena de morte. O promotor do caso informou que uma das vítimas sofreu cinco abortos provocados. Michelle Knight contou que quando engravidava, passava fome e apanhava na barriga até abortar. 

       Não sei se um dia essas mulheres, na época meninas conseguiram ter uma vida normal. Mas vou rezar para que elas superem esse ato inimaginável e também, para que outros casos como esse se existirem possam vir à tona e pessoas serem libertas. Pensei na palavra desumano, para descrever a situação mais nenhum ser em todo o universo merece passar por isso. Pensei também, ma palavra terror, mas terror também não descreve esse ato que ultrapassa o crime. Nada descreve, sabe por quê? Porque esses atos não deveriam existir. 

sexta-feira, 3 de maio de 2013


Imagem e Semelhança


Em meio a tantas questões sobre direitos humanos ou a falta deles uma questão me vem à mente: Como pode o povo negro ser amaldiçoado, se podemos dizer que no período da escravidão o maior exemplo de Cristo Jesus nessa terra, Brasil, foram os negros? Assim como Cristo, fomos surrados, cuspidos, acoitados, ridicularizados, despidos a força! Mesmo sendo reis em nossa terra natal.     
É importante lembrar que em muito isso não mudou e continuamos sendo na prática do dia a dia a mais próxima semelhança daquele que nos criou.
Começando pelos os quilombos, sim os quilombos, nossa primeira casa fora da escravidão nessa terra. Com o passar do tempo, negros livres, fugidos, índios e brancos pobres viviam uma organização social alternativa nos quilombos dividindo tudo em comum, assim como os primeiros cristãos.  
Podemos dizer que Judas, vendeu a crucificação de Jesus e o nosso governo tentou comprar nosso extermínio com vários planos de embranquecimento do Brasil, promovendo maciça entrada de europeus que recebiam de graça, grande quantidades de terras, semente e dinheiro para se estabelecerem aqui, usando como justificativa a não qualificação da mão de obra local, negra. È interessante lembrar que em meados de 1850 os quilombos plantavam, cultivavam para consumo próprio e o restante era vendido nas vilas e mercados. Nosso governo mais uma vez covardemente percebendo a organização e consequentemente o crescimento do poder econômico dos negros decretou a “Lei de Terras”, onde as terras só poderiam ser adquiridas através de compra com valores muito altos já para inviabilizar que os negros à adquirisem e lembrando que a “Lei de Terras” só foi aplicada aos  negros e utilizaram o exército para destruir os quilombos e plantações.
                 Sou a favor de educação de qualidade desde o ensino fundamental. Porém, quando vejo muitas pessoas contrárias à lei de cotas argumentarem que esse incentivo é coisa de gente preguiçosa que não quer ou gosta de estudar, ou que não deve existir incentivo nenhum, que a pessoa tem é que “correr atrás”, lembro que se muitos gozam de posição social e educacional favorável hoje, é por que seus antecessores espanhóis, italianos, alemães, portugueses entre outros receberam “cotas” nesse país em todos os momentos desde as Sesmaria e Capitanias Hereditárias.  Gosto de lembrar que a “farsa”(escrevo farsa, porque em 1888 apenas 5% da população negra ainda era escrava) Lei Áurea de 1888 não concedeu nenhum incentivo ao povo usado para construir com seu sangue esse País. Nada nos foi concedido, nada, até as favelas, fomos nós que buscamos. Qual foi a política do Bota-Abaixo? Expulsar negros e pobres do Centro do Rio e só. Pra onde iriam essas pessoas. Vou terminar esse texto citando a Lei Complementar da Constituição de 1824 “... pela legislação do império os negros não podiam frequentar escolas, pois eram considerados doentes de moléstias contagiosas.” Ora os poderosos do Brasil sempre souberam que a educação é a maior arma de transformação e ascensão de um povo e sua descendência. Só não contavam que assim como o cristianismo nós iríamos permanecer.